quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Bebes estressados, adultos complicados
Um estudo realizado em ratos avaliou o impacto que o estresse tem nos primeiros anos de vida e como ele pode resultar em problemas futuros de comportamento. Este estudo foi conduzido por Christopher Murgatroyd, do Instituto Max Planck de Psiquiatria, em Munique, Alemanha.

O trabalho descreve os efeitos em longo prazo do estresse em ratos bebês na revista Nature Neuroscience. Os ratos da pesquisa produziram, diante do estresse, hormônios que "mudaram" seus genes, afetando o comportamento ao longo das suas vidas. Este trabalho poderia fornecer pistas sobre como o estresse e o trauma na infância podem levar a problemas futuros.

Os filhotes de ratos foram submetidos a estresse devido ao fato de serem separados de suas mães durante três horas por dia durante dez dias. Apesar dos animais não serem afetados a nível nutricional, eles manifestaram reações físicas de estresse diante do abandono. A equipe descobriu que os ratos "abandonados" precocemente foram menos capazes de lidar com situações estressantes no futuro, ao longo das suas vidas. O Dr. Murgatroyd explicou que estes efeitos – dificuldade em lidar com estresse no futuro – foram causados por "mudanças epigenéticas", onde a primeira experiência estressante realmente mudou o DNA de alguns genes dos animais.

"Este é um mecanismo que acontece em duas fases", explicou o Dr. Murgatroyd. "Quando os ratos bebê foram estressados, eles produziram altos níveis de hormônios do estresse (cortisol)". Esse hormônio interfere no DNA de um gene destinado a codificar outro hormônio específico do estresse – a vasopressina, também conhecido como hormônio antidiurético. “Tal evento deixa uma marca permanente no gene do hormônio antidiurético,” disse o Dr. Murgatroyd. "Em seguida, é programado para produzir altos níveis [do hormônio] mais tarde na vida."

Os pesquisadores foram capazes de mostrar que a vasopressina estava por trás do comportamento e problemas de memória. Quando os ratos adultos receberam uma droga que bloqueava os efeitos desse hormônio, o seu comportamento voltou ao normal. Este trabalho foi realizado em ratos, mas os cientistas também estão investigando como o trauma de infância em humanos pode levar a problemas como a depressão.
Professor Hans Reul, um neurocientista da Universidade de Bristol, Reino Unido, disse que esta foi "uma adição muito valiosa para o entendimento sobre os efeitos em longo prazo do estresse no início da vida”.

Há fortes evidências de que as adversidades, tais como o abuso e negligência durante a infância contribuam para o desenvolvimento de doenças psiquiátricas como a depressão, por exemplo, na idade adulta. Isso ressalta a importância do estudo dos mecanismos relacionados aos transtornos emocionais e ao estresse.

Alergia (um comentário)
Alergia é a intolerância para com determinados produtos físicos, químicos ou biológicos, aos quais o organismo reage de forma exagerada. Na realidade é a intolerância do sujeito à alguma coisa do mundo objectual. Uma reação, uma rejeição...

Portanto, trata-se de uma reação anormal a um ou mais elementos aparentemente inócuos que, quando apreendidos pelo organismo (inalados, ingeridos, ou por contato com a pele) causam uma reação aversiva. Os produtos capazes de desencadear a alergia são chamados de alérgenos.

Quando alérgenos são apreendidos pelo organismo, células brancas do sangue que produzem anticorpos (IgE) são ativadas. Estes anticorpos determinam a liberação de produtos químicos (mediadores) potentes como, por exemplo, a mais importante que é a histamina. A manifestação clínica visível da reação alérgica simples é resultado da "batalha" entre a histamina e o alérgeno e não do alérgeno em si.

Veja trecho de uma matéria de um site português A Arte de Viver. Veja um trecho:
"São múltiplos e variados os tipos de alergia que atualmente povoam a Humanidade. Estas manifestações desagradáveis que incomodam milhares de seres humanos são incluídas nas somatizações psicogênicas por revolta, onde se inserem a enurese, a delinqüência, a agressividade, infantilismo, prisão de ventre e dores generalizadas em que o queixoso não encontra através de análises clínicas causas para as dores físicas que o atormentam. As revoltas acumuladas vão somatizando estruturas psíquicas que se projetam sobre várias rações que causam sofrimento, entre elas as alergias.

As alergias incluem-se nas doenças psicossomáticas. Certos tipos de alergia como as erupções cutâneas entre elas os eczemas, alergias respiratórias, como a asma, entre muitas outras, que não são mais do que manifestações de repulsão de medida, indomável, perante impressões psicológicas muito precisas, como as que nos são reveladas em relação a determinadas pessoas cujas características nos desagradam.

Uma das alergias, atualmente, mais comuns mesmo a nível de jovens são as alergias cutâneas. A pele é o terreno mais propício para se manifestarem as erupções psíquicas e é o local privilegiado de expressão emocional! Há variadíssimas manifestações alérgicas cutâneas: quando a pele de certas pessoas susceptíveis entra em contacto direto com eterminadas substâncias, como o próprio Sol, com a água do mar e até algo de existencial no meio ambiente difícil de detectar. A pele à sua maneira formula o que não conseguimos exprimir em palavras. Não esquecer que ela é a mais extensa das nossas superfícies sensoriais - 18.000 cm2 em média no adulto. Outro ponto fundamental é que a pele tem a mesma origem embrionária que o sistema nervoso (nervos, medula, cérebro).

A epiderme também sabe mudar de cor, de textura, de pilosidade, conforme os diversos estados emocionais e a hipersensibilidade a cada um desses estados."
Veja o artigo todo.

Efeitos de Vivências Traumáticas em Crianças

Como as vivências podem influenciar o desenvolvimento na infância e na adolescência
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efeito dos traumas

Há necessidade crescente de estudos, pesquisas, conduta e intervenção psicológica e psiquiátrica para as crianças e adolescentes expostos a eventos traumáticos. Alguns estudos revelam que crianças e adolescentes têm alto risco de desenvolver diferentes problemas comportamentais, psicológicos e neurobiológicos como conseqüência das vivências traumáticas ou experiências de vida estressantes. Outros trabalhos referem que, em algumas pessoas, as experiências traumáticas podem não produzir efeitos psiquiátricos desastrosos e mesmo até alguns efeitos positivos.

Cada vez mais se analisam as variedades de eventos traumáticos precoces ou em tenra idade e sua verdadeira importância no desenvolvimento de quadros conhecidos, tais como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, os Transtornos de Ansiedade, Transtornos Depressivos, Transtornos Comportamentais e outros, ou mesmo nos sintomas de luto traumático das crianças. Apesar do empenho dos pesquisadores, ainda faltam estudos bem desenhados e cientificamente expressivos para análise dos sintomas e quadro clínico de transtornos emocionais conseqüentes ao estresse experimentado por crianças e adolescentes em tenra idade.

Há interesse cada vez maior sobre o impacto de eventos traumáticos em crianças e adolescentes, até por conta dos recentes desastres naturais (tufões, furacões, terremotos, tsunamis) e dos “cataclismos” criados pelo homem, através dos atos de violência (guerras, violência urbana e doméstica, etc).

A pergunta que se faz é se existiriam, e quais seriam, os fatores protetores individuais contra esses traumas, de tal forma que algumas pessoas parecem menos vulneráveis que outras em relação às vivencias estressantes.

O que se observa na clínica diária, é que algumas crianças e adolescentes, vítimas desses traumas, se adaptam e se recuperam de maneira surpreendente, apesar da experiência sofrível pela qual passaram. Constata-se através da revisão de pesquisas sobre o tema, existir uma grande variedade de respostas emocionais aos eventos traumáticos que acometem crianças e adolescentes e, assim, fica cada vez mais difícil atribuir responsabilidade exclusiva ás vivências emocionais precoces.

Uma ocasião - dando um exemplo irônico sobre a importância das fragilidades pessoais em relação àquilo que vida coloca diante de nós - lembro um paciente criado em orfanato que vivia com sintomas extremamente histéricos, sofrendo e fazendo sofrer quem dele se acercava afetivamente. A tudo ele atribuía o fato de ter vivido em orfanato. Aliás uma excelente instituição, que acabava por formar seus internos em excelentes profissionais técnicos.

Um dia, diante de tantas afirmativas suas de que “era assim e era assado” por ter sido criado em orfanato e como se aproximava a data da reunião trianual de sua turma de instituição, disse-lhe que levasse vários cartões de visitas meus para distribuir entre seus pares; se ele estava assim, problemático por ter vivido em orfanato, então, certamente, todos seus colegas de classe deveriam também estar passando pelos mesmos problemas e precisando de tratamento.

Discute-se a existência de uma personalidade mais imune às vivências traumáticas ou, por outro lado, se o apoio social e familiar seria o fator decisivo para essas crianças a se recuperarem, impedindo assim uma conseqüência mais patológica do trauma. Apesar das pesquisas que investigam alterações hormonais causadas pelo estresse em tenra idade e as conseqüências dessas alterações no desenvolvimento emocional futuro, o que se vê na clínica e na vida em geral, é que as conseqüências psicológicas das vivências parecem depender muito mais da personalidade sobre a qual agem essas vivências do que das próprias vivências em si.

Isso corresponderia a dizer que as reações dependem muito mais do agente “agredido” do que do agente “agressor”. Entre as variáveis potenciais que determinam as conseqüências dos traumas vividos por crianças e adolescentes em longo e médio prazo, devemos considerar fortemente as eventuais psicopatologias e predisposições preexistentes nessas pessoas.

Além das variáveis individuais de vulnerabilidades ao trauma, as conseqüências de vivências traumáticas sobre o psiquismo das crianças e adolescentes podem ter também um componente cultural e mesmo étnico. Como exemplo, referimos duas pesquisas. Uma delas, envolvendo uma mostra de 349 adolescentes de nove escolas dos EUA, verificou que 76% delas relataram terem sido testemunhas ou terem sido vítimas de pelo menos um evento violento nos últimos três meses. Dessas exposições à violência o que mais se associou foi o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e a Depressão (Ozer, 2004).

A outra, de Seedat (2004), verificou que mais de 80% de uma mostra de 2.041 adolescentes quenianos relataou exposição à violência, como vítimas ou testemunhas, mas somente 5% dessa mostra desenvolveu sintomas completos de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, e 8% desenvolveram sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático parcial.

Talvez a diferença entre uma criança americana e uma queniana quanto as dificuldades para a vida cotidiana imunize as mais sofridas contra os efeitos de certos eventos, ou seja, maiores dificuldades de vida poderiam fazer com que alguns eventos fossem traumáticos para uma criança americana e nem tão traumático para uma queniana. Se isso fosse verdade, então as dificuldades pragmáticas da vida, as vivências mais penosas e as frustrações, até certo ponto, contribuiriam para melhorar a adaptação futura da pessoa.

Em um estudo de109 adolescentes que sofreram abuso sexual, incluindo toques sexuais, beijos, carícias nas mamas ou nos genitais, tentativas de penetração e penetração por alguém da família ou de fora dela, 50% tiveram diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, aproximadamente 33% foram assintomáticas e o restante teve outros problemas não significativos do ponto de vista sintomático (Bal, 2004). Algumas pesquisas importantes mostram que, felizmente, e ao contrário do que pode-se pensar, não é a expressiva e maciça maioria das crianças submetidas a traumas que desenvolve transtornos emocionais significativos.

Também em adultos, parece que a expressiva maioria das pessoas expostas à vivências traumáticas não desenvolve o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Vieira (2003) refere estudos epidemiológicos indicando que o Transtorno de Estresse Pós-Traumático afeta aproximadamente 15% a 24% das pessoas expostas a eventos traumáticos.

Isso nos leva a crer existirem outros fatores e outras variáveis influindo nas respostas emocionais aos traumas, como por exemplo, características da personalidade, como já dissemos, sensibilidade pessoal afetiva e emocional, estrutura de apoio familiar e social e, obviamente, a própria natureza do trauma.

O perfil afetivo da pessoa que reage é fundamental para a valorização da experiência vivida, a ponto dos eventos serem mais traumáticos para uns que para outros. Tem ainda o “fator depressão”, ou seja, o fato das pessoas mais depressivas terem muito mais dificuldade adaptativa diante dos estressores da vida. Na prática, a tonalidade afetiva responsável pela “valorização” do trauma seria representada pela pessoa que lamenta chorosamente as experiências vividas, dizendo sofrer “até hoje” as conseqüências “malditas” de tudo que aconteceu de terrível, e por outra pessoa que, vivendo experiências igualmente traumáticas, regozija-se por “tudo isso já ter passado” e sente-se muito bem por "ter superado essas vivências".

Juntando isso ao fato do Transtorno de Estresse Pós-Traumático ser acompanhado de taxas elevadíssimas de Depressão (comorbidade), surge a clássica pergunta; a Depressão e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático seriam síndromes distintas ou, ao contrário, seriam aspectos diferentes de um mesmo fenômeno emocional. Se assim fosse, então o Transtorno de Estresse Pós-Traumático seria apenas um outro tipo de manifestação clínica da depressão.

Para quem se interessa pelo tema, colocando-se como termos a serem pesquisados "transtorno do estresse pós-traumático", "trauma psicológico" e "crianças e adolescentes" em dois bancos de dados relevantes da literatura científica para a medicina (MedLine, PsycInfo), encontrará no mínimo 445 artigos relevantes.

Ali vê-se que, entre uma ampla variedade de eventos traumáticos expressivos, como por exemplo a violência na comunidade, desastres naturais e aqueles criados pelo homem, abuso e maus-tratos a crianças, acidentes em estradas, exposição a doenças clínicas e lide com a morte, é muito grande o número dos casos de violência na comunidade - violência urbana - que acaba resultando em sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (Julio Fernando Peres, Antonia Nasello).

Efeitos Orgânicos do Estresse
Para entender os efeitos orgânicos do estresse, lembramos que a base de liberação hormonal está situada no cérebro (hipófise), portanto, as questões cerebrais influem diretamente no funcionamento endócrino de todo organismo. A influência hormonal do estresse atinge mesmo as glândulas situadas fora do cérebro através de um eixo que liga o Hipotálamo (núcleos da base), a Hipófise e as Supra-renais.

A secreção da maioria dos hormônios pela hipófise obedece ao estímulo de pré-hormônios elaborados nos núcleos cerebrais paraventriculares, e estes núcleos são controlados por, pelo menos, dois tipos de estímulos: o estresse e o relógio biológico, responsável por todo ritmo do organismo (sono-vigília, ciclos hormonais das mulheres).

Assim, uma das áreas mais pesquisadas quando se trata dos efeitos físicos das emoções, é no chamado eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, ou seja, um sistema que começa no cérebro, na região do hipotálamo (fortemente influenciado pelas emoções), segue pela gandula hipófise (também localizada no assoalho do hipotálamo) e suas repercussões sobre a glândula supra-renal, situadas, como o nome diz, sobre os rins e outras manifestações alérgicas com vulnerabilidade à infecções variadas.

Efeitos Psicopatológicos dos Traumas
O maior volume de pesquisas sobre o impacto psicológico dos traumas em crianças e adolescentes, entretanto, se concentra em abusos, maus tratos e violência doméstica em geral. Em graus muito variáveis de adaptação e superação, crianças que sofreram abuso e maus-tratos correm maior risco de desenvolverem os seguintes quadros, de acordo com os seguintes trabalhos:

Transtornos

Autor

Transtorno de Estresse Pós-Traumático

Bal

Comportamentos Autoprejudiciais

Yates

Alexitimia

Honkalampi

Transtornos do Humor

Duran

Transtorno por abuso de drogas

Singer

Problemas de Comportamento Sexual

Letourneau

Dissociação Psicológica

Collin-Vezina

Somatizações

Maaranen

Alguns grupos de populações pesquisados, como por exemplo, os adolescentes de rua (Stewart, 2004) e os infratores juvenis (Abram - 2004, Brosky - 2004), parecem possuir antecedentes particularmente elevados de experiências traumáticas precoces, tais como abuso físico ou sexual e crime violento. Eles ainda mostraram taxas mais altas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Também foi sugerida uma ligação entre exposição a experiências traumáticas precoces, transtornos psicológicos e comportamento anti-social (Dixon, 2004).

Devemos ter muito cuidado com essas tendências em se atribuir ao sociopata uma causalidade social. Mas não existem, entretanto, pesquisas que investiguem a ocorrência de exposição à vivências traumáticas em pessoas adultas e completamente normais, tanto do ponto de vista psicológico, quanto sócio-ocupacional. E nós sabemos que existem muitos casos assim.

Pesquisas assim procuram verificar a força das características constitucionais da pessoa em relação à qualidade e quantidade da resposta emocional. Explica-se ainda, que as experiências traumáticas precoces também passarão a fazer parte integrante e importante da personalidade em desenvolvimento, portanto, contribuirão significativamente para a constituição da pessoa. Isso quer dizer que o termo “constitucional” não se refere exclusivamente ao que é genético, mas à interação entre o potencial genético e a influência ambiental precoce, desde que o fator em consideração seja definitivo.

criança estressada2

Na página de PsiqWeb sobre personalidade, para entender bem essa questão da constituição, nosso conceito é o seguinte: “Personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de nos tornar únicos em nossa maneira de ser e de desempenhar nosso seu papel social”. Quando falamos, então, em elementos constitucionais da personalidade, estamos falando das características dessa personalidade que se formaram a partir dos genes herdados e das experiências particulares que vividas.

Ao lado de alguns trabalhos sugerindo que os acidentes em estradas podem ter conseqüências psicológicas e comportamentais danosas para as crianças (Stallard, 2004), outras pesquisas sugerem que algumas crianças também expostas a acidentes de estrada podem experimentar alguns efeitos positivos, denominados “crescimento pós-traumático”, relacionado à melhor percepção de si mesmas, à melhora nas relações interpessoais e mudanças positivas das prioridades da vida (Salter, 2004). Na realidade, recentemente tem-se pesquisado muito esse fenômeno chamado crescimento pós-traumático (Posttraumatic Growth – PTG).

São casos onde, a despeito do sofrimento causado pela experiência traumática, ou mesmo apesar do desenvolvimento de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, as pessoas referem ter ficado emocionalmente mais fortes, ou terem amadurecido em áreas como relacionamento interpessoal, escala de valores, definição das prioridades de vida, etc. A ocorrência de sentimentos e emoções positivas, bem como de um desenvolvimento desejável da personalidade, foi observada em pessoas que sobreviveram a fortíssimos estressores vivenciais, tais como acidentes, cataclismos, câncer, etc (Jaarsma, 2006 – Bellizzi, 2006 – Morris, 2005 – Barakat, 2005 – Thornton, 2005).

Enfatizamos ainda, que diante de vivências consideradas traumáticas há uma tendência científica em acreditar que as respostas emocionais dependem muito mais do sujeito que vivencia do que da experiência vivida, e que nem todas experiências traumáticas resultam, obrigatoriamente, em um transtorno psiquiátrico ou alteração patológica futura de conduta.

Conclusão
As pesquisas sobre efeitos das vivências traumáticas em crianças e adolescentes, assim como os reflexos dessas experiências na vida adulta são difíceis e escassas (pelo menos são escassas aquelas pesquisas com metodologia científica adequada).

Em crianças e adolescentes podemos encontrar conseqüências emocionais do tipo Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Depressão e quadros Fóbico-Ansiosos. Em adolescentes, além desses transtornos emocionais observamos importantes alterações comportamentais, tais como isolamento social, rebendia, constrangimento social e ideação suicida.

Em adultos com passado de abuso sexual (geralmente doméstico) ficam alterações da sexualidade, quadros ansiosos (não raramente o TOC) e depressivos. Entretanto, deve ser relevante o fato de que nem todas as crianças e adolescentes submetidos a experiências traumáticas desenvolvem conseqüências patológicas. Maior ênfase deve ser dado às variáveis pessoais e culturais que influem nas respostas às experiências traumáticas. As variáveis pessoais dizem respeito à constituição da própria personalidade e a ocorrência de transtornos emocionais prévios e/ou predisposições a eles.

Também tem-se pesquisado bastante em relação às alterações orgânicas (notadamente hormonais) ocasionadas pelas vivências traumáticas e estresse.
Além dessas eventuais alterações endócrinas, também tem-se relacionado às experiências traumáticas e ao estresse alterações funcionais e/ou anatômicas do Sistema Nervoso Central.

A idéia de atribuir à pessoa uma importância maior naquilo que as vivências poderiam causar nos faz refletir bastante sobre os fatores ambientais supostamente capazes de justificar transtornos emocionais e de conduta em crianças, adolescentes e adultos, como é o caso das experiências traumáticas. É evidente que a história vivencial tenha a mais relevante importância na essência da pessoa aqui-e-agora, entretanto, não é apenas isso que deve ser buscado entre os fatores relacionados aos problemas psíquicos atuais.

Assim, não se pode atribuir às eventuais experiências traumáticas sofridas precocemente a justificativa absoluta para a conduta dos sociopatas, por exemplo. Nem tampouco que as crianças hiperativas o são por carência afetiva, ou coisa assim. A busca de causas vivenciais relacionadas ao autismo infantil também tem sido completamente estéril. Tudo isso parece muito mais atrelado ao DNA do que ao destino.

É claro que existem experiências fortemente traumáticas e capazes de mobilizar grande número de pessoas, como é o caso de catástrofes naturais (tsunamis, terremotos...) e situações sofríveis produzidas pelo próprio ser humano, como as guerras, terrorismo, violência urbana de grandes proporções. Essas experiências, sem dúvida, podem produzir seqüelas emocionais significativas em grande número de crianças, adolescentes e adultos. Mesmo assim, essas conseqüências não aparecerão em 100% das pessoas.

Experiências traumáticas particularmente vividas, como perdas pessoais, separações conjugais, e coisas assim, deverão ser mais bem pesquisados, uma vez que as variáveis são muitas, assim como são muitas as maneiras das pessoas reagirem a elas. Inclusive, parece que em determinadas circunstâncias as crianças reagem melhor que os adultos.

Também não se tem certeza, fisiologicamente, se alguns sintomas emocionais de crianças e adolescentes que surgem em resposta ao estresse atual poderiam ser considerados reações “normais” a eventos cotidianos aos quais qualquer pessoa estaria sujeita na vida moderna. Mesmo assim, o artigo se justifica pelas crianças e adolescentes que exibem níveis importantes de comprometimento emocional depois de submetidos a vivências traumáticas.

Para referir:
Ballone GJ, Efeitos de Vivências Traumáticas em Crianças e Adolescentes, in. PsiqWeb, Internet, disponível em
http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2009

Bullying

É uma forma de assédio ou intimidação com forte componente de humilhação.
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O fenômeno do assédio escolar é bastante conhecido e tem denominação auto-explicativa em português, "assédio escolar", sem nenhuma necessidade de se recorrer à outro idioma para tal, entretanto, tendo em vista a grande abrangência do significado da palavra da língua inglesa, o título desse artigo será mesmo Bullying.

Devido a dificuldade em traduzi-lo para outras línguas a adoção do termo é universal. Em 2005, durante a realização da Conferência Internacional Online School Bullying and Violence, concluiu-se que o amplo conceito da palavra bullying dificulta a escolha de um termo correspondente em outros idiomas, entre eles o alemão, francês, espanhol e português (Visionary.net, 2005).

A palavra "bully" em inglês significa valentão, assim, bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou um grupo com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo incapaz de se defender. Assim sendo, o termo bullying descreve uma forma de ofensa ou agressão de uma pessoa ou um grupo sobre alguém mais fraco ou mais vulnerável.

A rigor a psiquiatria não teria nada a ver com o bullying em si, principalmente por se tratar de um comportamento vindo de pessoas supostamente normais, pessoas apenas com carência de valores morais e com elevada dose de maldade. A psiquiatria não deve se envolver em ambiente tão sórdido, deixando para essas questões éticas soluções éticas e de responsabilidade de nosso sistema sociocultural.

Mas a psiquiatria deve se ocupar sim, das conseqüências extremamente patológicas e mórbidas que o bullying pode produzir em suas vítimas. Nesse caso a psiquiatria pode e deve envolver-se, juntamente com a cumplicidade de outros setores da sociedade, pois não se trata de poucas pessoas envolvidas. Estudos indicam que a prevale^ncia de vítimas de bullying varia entre um mínimo de 8% a um máximo de 46%. Os agressores aparecem nas pesquisas entre um mínimo de 5% e um máximo 30% (Neto, 2004 - Fekkes, 2005).

A idade da vítima de bullying mais prevalente se situa entre 11 e 13 anos, sendo menos freqüente na educação infantil que no ensino médio (Eslea, 2001). Os agressores masculinos são prevalentes, entretanto, as meninas podem exercer formas mais sutis ou, como vimos, mais indiretas de bullying, dificultando assim a percepção da agressão. Há boas razões para se acreditar que a prevalência do bullying esteja sendo subestimada, tendo em vista o fato de que a maioria dos atos de bullying ocorrem fora da visão dos adultos e de que a maioria das vítimas não queixa da agressão, seja por constrangimento ou por saber que pouco farão por elas.

A prevenção do bullying é um trabalho bastante complexo e se constitui em medida necessária de saúde pública e de relevância sócio-política, já que está relacionada ao pleno desenvolvimento da personalidade das pessoas, ao preparo para a convivência social sadia e segura. As pesquisas mostram dados interessantes sobre a violência, sendo um deles relativo a uma das formas mais visíveis de violência na sociedade; a violência juvenil, aquela cometida por pessoas com idades entre 10 e 21 anos.

Mostram também, as pesquisas, que grupos de comportamento violento antes da puberdade tendem a ter atitudes cada vez mais agressivas, ações cada vez mais graves na adolescência e persistência de comportamento violento na fase adulta. É como se a sociedade toda fosse apenada por não ter coibido energicamente o comportamento violento quando deveria... tenha sido tal omissão inconseqüente feita em nome do tal "estatuto da criança e adolescente", fosse por conta de alguma interferência pseudo-humanista e demagógica de frações sociais barulhentas e mal informadas.

O termo "violência escolar”é bastante abrangente. Seu estudo analisou, inicialmente por volta da década de 80, as depredações e agressões ao patrimônio escolar. Na década de 1990 os estudos se voltam para as relações interpessoais agressivas, envolvendo alunos e professores. No início da década de 2000 o bullying finalmente chama atenção dos pesquisadores. Sposito, 2001). Portanto, as pesquisas sobre bullying são relativamente recentes, aparecem mais a partir da década de 90, principalmente com o sueco Olweus (1993), Smith e Sharp (1994), Ross (1996) e Rigby (1996), conforme citado por Aramis Lopes Neto (2004).

O termo "violência escolar", por sua vez, é mais abrangente, envolve o bullying e muito mais. Diz respeito a todos comportamentos agressivos e anti-sociais, incluindo o bullying, as agressões interpessoais, danos ao patrimônio e outros atos criminosos que têm a escola como cenário.

O comportamento do bullying é uma forma de assédio ou intimidação com forte componente de humilhação. Ele pode ser de dois tipos; direto e indireto. O tipo direto, próprio da agressão masculina, se faz diretamente sobre o agente agredido, sem intermediários, e deve ter as seguintes características:

1. O comportamento é maldoso, agressivo e negativo com objetivo de produzir dolo;
2. Esse tipo de comportamento é repetitivo;
3. Esse tipo de comportamento ocorre em desequilíbrio de poder, com vantagem do agente agressor em comparação ao agente agredido.

O assédio intimidativo não envolve obrigatoriamente um ato criminoso ou uma violência física. Isso aumentaria as chances de coibição, proibição e punição. Muitas vezes o sofrimento é ocasionado dissimuladamente por meio de abuso psicológico ou verbal. No entanto, as cicatrizes emocionais são tão ou mais duráveis que aquelas produzidas por agressões físicas.

ALGUNS EXEMPLOS DAS ATITUDES NO ASSÉDIO INTIMIDATIVO
Insultos e depreciações diretas
Ataques físicos ou psicológicos repetidos
Desrespeito e destruição de propriedades da vítima
Divulgar rumores depreciativos sobre a pessoa
Obrigar a vítima a comportamentos que ela não quer
Envolver a vítima em situações problemáticas e complicadas
Depreciar publicamente a família da vítima
Estimular outras pessoas ao bullying contra a mesma vítima
Depreciar a aparência, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade da vítima
Favorecer o isolamento social da vítima
Envergonhar a vítima na frente das pessoas.

Bullying Feminino

O tipo indireto desse assédio escolar é a forma mais comum de bullying do sexo feminino. Geralmente a conseqüência é forçar a vítima a se sentir diminuída e ao isolamento social, obtido por meio de várias técnicas. Isso inclui:


1. Espalhar comentários (fofocas);
2. Recusar acolher ou socializar com a vítima;
3. Intimidar outras pessoas que possam acolher a vítima;
4. Ridicularizar a vítima através de vários meios (internet e outros), e sobre diversos aspectos pessoais (incluindo etnia, religião, situação sócio-econômica, aspecto físico, incapacidades, etc.).

Atualmente está em moda o chamado cyberbullying, que é a utilização dos meios da internet para exercer o bullying, tais como criar páginas, comunidades ou perfis falsos e negativos sobre a vítima, principalmente em sites de relacionamento, publicação de fotos comprometedoras, etc. Algumas vezes o bullie (que é o valentão ou valentona chefe do bullying) usa da grafitagem depreciativa como método de agressão.

Cyberbullying

Uma das características mais evidentes do bullying é o desequilíbrio de poder entre o agressor ou agressores e a vítima, seja esse assédio produzido na escola, universidade, trabalho, clube, etc. Por isso, talvez, o termo intimidação, em português, seja mais adequado que assédio escolar.

Ambiente Escolar e Social
Estudos das influências do ambiente escolar sobre o desenvolvimento acadêmico do jovem já são bastante conhecidos. Entretanto, é importantíssimo também a influência do ambiente escolar na saúde emocional da pessoa, no presente e no futuro (Samdal, 2004).

O acolhimento no ambiente escolar não é importante apenas para a qualidade da vida emocional da pessoa, mas também é relevante em relação ao aproveitamento e desenvolvimento escolar. Algumas pesquisas mostram que o relacionamento inter-pessoal e a aceitação pelos colegas é muito importante, tanto nas crianças quanto nos adolescentes (Ravens-Sieberer, 2004).

O bullying e a vitimização representam diferentes tipos de envolvimento em situações de violência na infância e adolescência. O bullying é uma forma de afirmação de poder interpessoal através da agressão e humilhação. A vitimização, por sua vez, ocorre quando uma pessoa se faz receptora do comportamento agressivo de uma outra mais poderosa ou popular inconscientemente. Tanto o bullying como a vitimização têm conseqüências negativas imediatas e tardias, seja para os agressores ou para as vítimas e observadores.

Uma das dificuldades para a participação da escola no manejo do bullying é que esse tipo de comportamento agressivo é tradicionalmente admitido como natural, fisiológico, aceito por ignorância ou comodidade como se fosse próprio da juventude, portanto, não é valorizado pelos educadores e nem pelos pais, exceto pelos pais da vítima.

Se a escola e a sociedade têm esmerada preocupação com o Estatuto da Criança e do Adolescente, que é um documento onde estão previstos os direitos da criança e do adolescente ao respeito e à dignidade, como ficamos quando as próprias crianças e adolescentes desrespeitam seu próprio estatuto em relação às outras crianças e adolescentes? (veja nesse site A Maldade da Infância e Adolescência)

E por uma série de vícios sociais politicamente corretos a escola tem grande dificuldade em aplicar a disciplina que a sociedade espera dela. Primeiro, na escola particular, alguns pais com o péssimo e quase esquizóide habito de achar seus filhos têm sempre razão, defendem suas atitudes incondicionalmente em detrimento das tentativas disciplinadoras da escola. Com isso esses pais acabam estendendo à escola a incapacidade que têm em estabelecer limites e responsabilidades aos seus filhos. Caso não sejam satisfeitos os privilégios dessas crianças, ameaçam tirá-los da escola.

Na escola pública, por outro lado, embora a atitude de alguns pais em relação ao entendimento que têm sobre as condutas de seus filhos seja a mesma visto anteriormente, eles não têm o instrumento da ameaça de causar um prejuízo econômico tirando seu filho da escola, tal como fazem os pais da escola particular. Nesse caso eles ameaçam fisicamente professores e diretores. Ou pior ainda; dizem que vão à televisão reclamar do abuso cometido contra a fragilidade de seus filhos.

Essas variáveis e dificuldades fazem com que a escola seja completamente ou quase completamente omissa na questão do bullying, por interesse, medo ou comodidade. Assim sendo, a aparente aceitação dos adultos e a conseqüente impunidade favorecem a perpetuação desse comportamento agressivo.

Os Valentões do Bullying
Algumas condições adversas parecem favorecer a agressividade nas crianças e adolescentes. Essas condições podem ser constitucionais, psicológicas e ambientais. O fator constitucional mais grave e irreversível que invariavelmente proporciona conduta delinqüencial é o chamado Transtorno de Conduta (Veja mais).

Felizmente o Transtorno de Conduta não é tão comum, mas quando aparece é definitivo e não comporta tratamento. Tendo em vista sua gravidade, o Transtorno de Conduta só deve ser diagnosticado se satisfizer os critérios dos manuais de classificação (CID.10 e DSM.IV).

O Transtorno do Controle dos Impulsos, tipo Explosivo Intermitente, é outra condição constitucional capaz de se manifestar com agressividade, baixíssimo limiar de tolerância e impulsividade, mas não necessariamente com maldade.

Outros fatores individuais predominantemente constitucionais também influem nos comportamentos agressivos, como por exemplo, a hiperatividade, impulsividade, distúrbios comportamentais, dificuldades de atenção, pouca inteligência e desempenho escolar deficiente.

As condições psicológicas determinantes da agressividade do bullying parecem mais comuns que aquelas constitucionais. Um tipo comum de agressor é aquele que tem opiniões positivas sobre si mesmo, geralmente é mais forte que sua vítima, sente prazer em dominar, causar danos e sofrimentos aos outros.

Geralmente o autor do bullying se empenha muito em ser popular, é tipicamente expansivo, barulhento, tende a se envolver em comportamentos infratores e anti-sociais (Griffin, 1999). Pode tratar-se de pessoa impulsiva, mas não obrigatoriamente e vê sua agressividade como qualidade, provavelmente por ser um comportamento reforçado pelo meio.

Via de regra o agressor tem uma personalidade autoritária e uma forte necessidade de controlar ou dominar. Também tem sido observado no autor de bullying uma deficiência em habilidades sociais e pontos de vista preconceituosos. Algumas pesquisas mostram que os agressores são mais envolvidos em comportamentos de risco para a saúde, tais como: fumar, beber em excesso (King, 1996) ou usar drogas (DeHaan, 1997).

Quanto às condições ambientais envolvidas no bullying, algumas pesquisas identificam no agressor uma certa desestrutura familiar, um relacionamento afetivo pobre, excesso de tolerância, permissividade ou falta de limites. Há ainda maior incidência de maus-tratos físicos ou comportamentos explosivos dos pais como afirmação de poder.

Quando se percebe a combinação de baixa auto-estima com atitudes agressivas e provocativas de bullying, há maior probabilidade de que o agressor tenha alterações psicológicas merecedoras de atenção especial, tais como, por exemplo, quadros depressivos. No entanto, isso é raro e há poucas evidências de que os autores de bullying sofram de qualquer déficit de autoestima. Por outro lado, a inveja e o ressentimento podem ser motivos para a prática do assédio escolar, ao mesmo tempo estima-se que aproximadamente 20% dos autores de bullying tambe´m tenham sido vítimas dele.

Os alunos que testemunham o bullying e ao invés de qualquer participação reparadora ou aliviatória, limitam-se a rir dos episódios de agressão, devem ser classificados como auxiliares ou cúmplices, pois funcionam como incentivadores, incitadores e estimuladores do autor. Muitos desses alunos que começam sendo apenas testemunhas omissas acabam acreditando que o uso de comportamentos agressivos contra os colegas é o melhor caminho para alcançarem a popularidade e o poder. Com isso podem acabar aderindo ao bullying por pressão dos colegas.

Outros alunos são apenas observadores protetores, preferem se afastar ou defender a vítima. Alguns desses alunos seguindo uma boa orientação familiar, chegam a chamar um adulto para interromper a agressão.

Conseqüências
Embora o bullying tenha efeitos variados entre as crianças e adolescentes, em geral existe uma relação direta de suas conseqüências com a freqüência, duração e severidade das agressões. Suas vítimas sofrem conseqüências a curto e longo prazo. As dificuldades emocionais e escolares são as mais imediatas. As dificuldades emocionais persistem por muito mais tempo, sendo a depressão com baixa autoestima a principal seqüela.

Os autores de bullying, por sua vez, a longo prazo podem apresentar conseqüências sociais e legais. Quanto mais jovem for a criança agressiva e autora do bullying, maior será o risco de apresentar problemas associados a comportamentos anti-sociais em adultos, tais como a instabilidade no trabalho, nos relacionamentos afetivos, nas questões éticas (Due, 1999).

O testemunho de atos de bullying acompanhado de omissão é, por si só, um ato culposo. Isso pode trazer conseqüências de arrependimento, sensação de impotência, culpa, omissão. Presenciar o bullying pode proporcionar nos demais alunos uma malformação de caráter, de valores, descrença na instituição, banalização da contravenção, inversão de valores morais, de justiça, entre outros.

O comportamento dos pais dos alunos agressores é importantíssimo para a prevenção do problema. Na questão do bullying, nenhum pai deve se sentir mais aliviado porque seu filho não está sendo vítima. Os agressores terão seríssimos problemas de conduta, comportamento e moral no futuro, caso não sejam prontamente corrigidos. As outras crianças que "não tomam partido", estão longe de serem inocentes. São cúmplices.

Os pais das vítimas do bullying devem ter conduta fortemente intervencionista. A indiferença e a falsa crença de que isso "é coisa de criança" pode fazer com que a vítima sofra intensos sentimentos de abandono. O inconformismo, a revolta e a ira podem comprometer o desenvolvimento da personalidade dessas crianças. A negação ou indiferença da escola e dos professores pode gerar na criança a sensação de traição ou a descrença e desconfiança no sistema, pode ainda estimular uma falsa crença no triunfo da injustiça e no sucesso da maldade.


O que fazer
A maioria dos alunos não se envolve diretamente em atos de bullying e geralmente se cala por medo de ser a próxima vítima, por não saberem como agir ou, infelizmente, por já estarem descrentes das atitudes da escola, da instituição e da autoridade.

Esse silêncio e omissão acaba sendo interpretado pelos autores do bullying como aval para suas atitudes ou confirmação de seu poder, o que ajuda a perpetuar a situação e acobertar os autores desses atos. Por isso os adultos devem sempre estimular seus filhos a denunciarem o bullying, senão à própria escola, no mínimo através deles, pais.

Lopes Neto mostra que grande parte dos alunos que testemunham o bullying sente simpatia pelas vítimas e condena o comportamento dos agressores. Cerca de 80% dos alunos não aprovam os atos de bullying e deseja que os professores e a escola intervenham mais efetivamente. Segundo esse autor, quando as testemunhas interferem e tentam cessar o bullying, tais ações são efetivas na maioria dos casos. Por isso é importante incentivar o uso do poder do grupo contra o autor ou os autores do bullying, fazendo com que eles se sintam sem nenhum apoio social.

Medidas preventivas
Avaliar o bom desempenho dos alunos pelas notas ou cumprimento das tarefas não e´ suficiente. A escola deve monitorar as habilidades ou possíveis dificuldades que seus alunos possam ter em seu convívio social, no relacionamento com os colegas. Esta é uma atitude obrigatória da instituição em quem se confia a responsabilidade pela educação e segurança de seus alunos.

A prevenção do bullying deve envolver a todos, ou seja, os pais, a escola, os colegas e até a mídia. Para a melhor prevenção é necessário perceber o bullying precocemente. Se a escola deve cumprir seu papel de observação atenta, mais atenta ainda deve ser a família.

A criança vítima de bullying apresentará algumas alterações obrigatoriamente. O sofrimento emocional se traduz em diferenças no comportamento ou em representações orgânicas, assim, pode-se dizer que essas alterações acontecem na esfera comportamental, escolar, emocional e, muitas vezes, físico. Não é necessário que a criança apresente todas alterações referidas abaixo como indício de assédio escolar, mas quanto mais graves forem as agressões mais sintomas aparecerão.

O comportamento reflete insegurança em relação à escola, atitudes evasivas e evitativas em relação às aulas. A criança pode ainda mostrar irritabilidade, tendência ao isolamento, inibição social. Há choro fácil e mau humor. O rendimento escolar pode sofrer prejuízo, mas isso não é obrigatório.

Embora não seja tão comum, pode haver alterações alimentares, tais como a perda de apetite, mais comum em meninos e bulimia, predominante em meninas. Além das alterações do sono, a criança ofendida pelo bullying pode fazer xixi na cama (enurese noturna) e ser aterrorizado por pesadelos.

Organicamente é possível haver diarréia crônica (síndrome do intestino irritável), gastrite, asma brônquica, dermatites e alergias, tudo isso de fundo emocional. A criança pode apresentar ainda depressão emocional, crises de tristeza, ansiedade, medo e pânico.

A escola e os pais devem encorajar os alunos a participarem ativamente da vigilância e do desestímulo dos atos de bullying, uma vez que o enfrentamento por parte dos outros alunos mostra a falta de apoio ao agressor ou agressores.

para referir:

Ballone GJ - Bullying - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, abril de 2011.


Maldade da Infância e Adolescência: Bullying

Ao contrário do senso comum comportamento perverso nas crianças e adolescêntes é freqüente e acarreta em prejuízos importantes para a sociedade.
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Um dos grandes equívocos de nossa sociedade está em acreditar que basta ser criança para ser uma pessoa boazinha. Costumava causar impacto ao afirmar, politicamente incorreto, que as crianças são naturalmente más (parodiando Hobbes e seu Estado Natural). São elas que agridem os menores, pisam em formiguinhas, tocam fogo no rabo do gato, são egoístas ao extremo, querem tudo para elas próprias, judiam dos mais fracos e participam do fenômeno conhecido por Bullying. De fato, isso não é ser bonzinho (veja Violência e Agressão da Criança e Adolescente).

O termo Bullying, que não existe na língua portuguesa. Ele significa formas de agressões intencionais repetidas por estudantes, que causam angústia ou humilhação a outro. Compreende, pois, todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivações evidentes, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. O Bullying se encontra presente, possivelmente, em variadíssimas situações, tais como, colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, sacanear, humilhar, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences, etc.

Segundo artigo de Aramis Antônio Lopes Neto e Lauro Monteiro Filho o Bullying pode se manifestar de quatro formas diferentes: verbal, físico, psicológico e sexual. Referem pesquisas onde a maioria dos alunos vitimados por Bullying destaca como a situação mais freqüente a identificação por apelido com maldade e com propósitos de humilhação, seguido do roubo de pertences (39%), a indução ao uso de drogas (30%) e os ataques violentos (25%).

Normalmente existem três tipos de pessoas envolvidas nessa situação de violência: o expectador, a vítima e o agressor. O expectador é aquele que presencia as situações de Bullying e não interfere. Sua omissão deve-se por duas razões principais: por tornar-se inseguro e temeroso e por isso sentir medo de sofrer represálias ou, ao contrário, por estar sentindo prazer com o sofrimento da vítima e não tem coragem de assumir a identidade de agressor. Os expectadores do primeiro tipo (os mais medrosos), apesar de não sofrerem as agressões diretamente, podem se sentir incomodados com a situação e com a incapacidade de agirem.

A vítima, por outro lado, costuma ser a pessoa mais frágil, com algum traço ligeiramente destoante do modelinho culturalmente imposto ao grupo etário em questão, traço este que pode ser físico (uso de óculos, alguma deficiência, não ser tão bonitinho...) ou emocional, como é o caso da timidez, do retraimento...

Vítima costuma ser uma pessoa que não dispõe de habilidades físicas e emocionais para reagir, tem um forte sentimento de insegurança e um retraimento social suficiente para impedí-la de solicitar ajuda. Normalmente é uma pessoa retraída e com dificuldades para novas amizades ou para se adequar ao grupo. A vítima é freqüentemente ameaçada, intimidada, isolada, ofendida, discriminada, agredida, recebe apelidos e provocações, tem os objetos pessoais furtados ou quebrados. No ambiente familiar a vítima apresenta sinais de evitação, medo ou receio de ir para escola, mas, não obstante, como dissemos, não procura ajuda dos familiares, professores ou funcionários da escola.

Tudo isso acaba fazendo com que a vítima troque de escola freqüentemente, ou pior, que abandone os estudos. Nos casos mais graves a vítima contumaz acaba desenvolvendo uma severa depressão, podendo chegar a tentar ou cometer o suicídio.

Os agressores no Bullying são, comumente, pessoas antipáticas, arrogantes e desagradáveis. Alguns trabalhos sugerem que essas pessoas vêm de famílias pouco estruturadas, com pobre relacionamento afetivo entre seus membros, são debilmente supervisionados pelos pais e vivem em ambientes onde o modelo para solucionar problemas recomenda o uso de comportamento agressivo ou explosivo.

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Há fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam o Bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos anti-sociais, psicopáticos e/ou violentos, tornando-se, inclusive, delinqüentes ou criminosos. Normalmente o agressor acha que todos devem atender seus desejos de imediato e demonstra dificuldade de colocar-se no lugar do outro.

O Bullying é um problema mundial, é um problema do ser humano imaturo, logo, deve acompanhar a humanidade desde a pré-história. É um fenômeno encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana, em qualquer país.

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Os meninos estão mais envolvidos com o Bullying com uma freqüência muito maior, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas, embora com menor freqüência, o Bullying também ocorre e se caracteriza, principalmente, como prática de exclusão ou difamação

De acordo com Rosana Del Picchia de Araújo Nogueira e Kátia A Kühn Chedid (veja), o conceito de Bullying pode também ser aplicado na relação de pais e filhos e entre professor e aluno, citando como exemplos, aqueles adultos que ironizam, ofendem, expõe as dificuldades perante o grupo, excluem, fazem chantagens, colocam apelidos preconceituosos e têm a intenção de mostrar sua superioridade e poder, usando deste comportamento freqüentemente.

De acordo ainda com artigo Bullying na Escola e na Vida, de Nogueira e Chedid, citado acima, em Portugal um em cada cinco alunos (22%), de 6 a 16 anos, já foi Vítima de Bullying na escola, sendo o local mais comum de ocorrência de maus-tratos os pátios de recreio (78% dos casos) e os corredores (31,5% dos casos). Na Espanha a incidência do Bullying se situa em torno de 15% a 20% nas pessoas em idade escolar, quase o mesmo observado em Portugal e em outros países da Comunidade Européia.

Muitas crianças, Vítimas de Bullying, desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e geralmente evitam retornar à escola. A fobia escolar geralmente tem como causa algum tipo dessa violência. Outras crianças que sofrem Bullying, dependendo das características de suas personalidade e das relações com os meios onde vivem, em especial entre suas famílias, poderão não superar totalmente os traumas sofridos na escola. Elas poderão crescer com sentimentos negativos e com baixa autoestima, apresentando sérios problemas de relacionamento no futuro. Poderão, outrossim, assumir um comportamento agressivo, vindo a praticar o Bullying no ambiente sócio-cupacional adulto e em casos extremos, poderão tentar ou a cometer suicídio.

Raymundo de Lima, citando Lopes Neto (veja), observa que os casos de suicídio acontecem, em geral, nas pessoas que não suportaram a grande pressão psicológica do Bullying. Observa ainda o pior efeito da pressão sofrida nos casos de Bullying seja, talvez, fazer a Vítima se sentir absolutamente inexpressiva, insignificante, abjeta, desprezível, enfim, uma agressão que combina fazer de conta que a Vítima não existe, aniquilando totalmente a autoestima, suprimindo, inclusive, as condições para ela desabafar com alguém.

para referir:

Ballone GJ, Moura EC - Maldade da Infância e Adolescência: Bullying - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008




Transtornos de Conduta
Os Transtornos de Conduta acometem sempre mais os meninos, aumentando a incidência com a idade. Os Transtornos Alimentares são mais problemáticos nas adolescentes e a adiccão a drogas e/ou alcoolismo nos meninos adolescentes.

Calcula-se, na Espanha, que ao longo de um ano, aproximadamente 20% das crianças e adolescentes sofrerão algum transtorno psíquico de maior ou menor intensidade.

Desse total, aproximadamente 50% se compõe de transtornos de ansiedade e depressão. Em muitos casos de transtornos psiquiátricos infanto-juvenis a consulta médica pode ser motivada por sintomas físicos, cuja origem pode ser encontrado em um transtorno de ansiedade ou depressivo atípico.

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Com Amor e Carinho tudo se resolve??
Muito embora haja uma tendência romântica em acreditar-se que "com amor e carinho" tudo se resolve, mesmo correndo o risco do politicamente incorreto, podemos dizer que "com amor e carinho muitas coisas se resolvem, mas nem tudo".

O fato da criança adotada ser portadora e/ou manifestar de forma definitiva traços de personalidade e doenças psíquicas de seus pais biológicos é uma possibilidade bastante evidente.

Pesquisas
Entre os fatores apontados como relevantes para o desenvolvimento mental e psiquiátrico das crianças adotadas estão:
a) as características emocionais dos pais biológicos;
b) o meio de origem da criança adotada, como por exemplo, o país, sistema cultural;
c) a idade de adoção da criança;
d) o tempo de permanência nas instituições (Hernandez et al, 2003)

Estudos em família fornecem evidência da transmissão familiar da tendência ao suicídio, confirmada em gêmeos e crianças adotadas.

Em nível molecular, a serotonina parece ser um dos neurotransmissores chaves implicados no comportamento suicida. Conseqüentemente, os genes que codificam para as proteínas envolvidas na neurotransmissão serotoninérgica foram estudados extensivamente em suicidas.
Os resultados reconhecem a importância dos genes da enzima hidroxilase que age no triptofano (TPH), particularmente no comportamento suicídio violento (Souery, 2003).

Em relação ao Déficit de Atenção e Hiperatividade, estudos em gêmeos confirmam o forte componente de hereditariedade em, aproximadamente, 80% dos casos. Os estudos em crianças adotivas também realçam a importância da causa genética, relacionando a doença aos genes designados por DRD4 e DAT (Biederman, 2002).

Sobre a agressividade, estudos realizados em Iowa (EUA), demonstraram que o grau de agressividade em crianças adotadas, bem como de Transtornos de Conduta têm um componente genético significativo.

Esses riscos da agressividade e Transtornos de Conduta nas crianças adotadas se evidenciaram bastante quando foi considerado o perfil psíco-genético dos pais biológicos (Cadoret, 2003).

Hoksbergen et al, estudaram 83 crianças adotadas da Romênia e constataram que somente 13% delas não mostrou nenhum problema psicossocial importante (Hoksbergen, 2002).

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Violência na Adolescência
Paulo Cicarelli tem uma visão psicodinâmica muito interessante sobre a violência da adolescência. Veja um trecho de seu artigo A Patologia do Social e a Delinqüência:

"
Como vimos, a entrada da criança no mundo, sua assujeitação à civilização - a introdução em um espaço onde outros falam-lhe, interpelam-na, fazem-lhe demandas, ofendem-na, etc - só é possível pela renuncia do gozo narcísico e pela aceitação das satisfações substitutivas que a civilização oferece. Entretanto, vale relembrar, tanto os sacrifícios impostos pela civilização para que a vida em comum seja possível, quanto as satisfações substitutivas ao narcisismo, nunca são plenamente aceitáveis no inconsciente dos homens pois a própria civilização é, em seu cerne, marcada por aquilo que afeta o sujeito do desejo: o recalque.

Dito de outra forma: o processo civilizatório, ou se preferirmos o Outro, é aquilo que transforma o gozo em desejo. Por outro lado, cabe também ao processo civilizatório garantir ao sujeito o acesso e a continuidade, por mínimas que sejam, às satisfações substitutivas sem o quê ocorreria um recrudescimento da frustração causada pela renúncia narcísica

A inexistência de satisfações substitutivas às moções pulsionais recalcadas, assim como falta de limites ou o excesso de satisfação, podem gerar violência ou atos de delinqüência. A frustração oriunda de tendências pulsionais recalcadas faz com que o psiquismo procure outras formas de descarga de energia como é o caso de alguns comportamentos anti-sociais.

Ao mesmo tempo, e aqui se constitui o paradoxo de ser humano, revoltar-se contra a civilização, contra o Outro (contra a cultura, o mundo, as leis), percebê-la como uma instância hostil é revoltar-se contra aquilo que constitui o próprio homem, o que aumenta ainda mais a frustração e a angústia.

Da mesma forma que conflitos familiares podem afetar, ou mesmo entravar, a resolução do complexo de Édipo impedindo que o sujeito se situe no simbólico, uma patologia do social, gerada por uma organização político-social perversa que não garante a continuidade do processo civilizatório, pode gerar comportamentos marginais.

Exemplo disto ocorre quando, chegado o momento de receber da sociedade o que lhe é devido, os seus direitos fundamentais em troca da renúncia ao princípio de prazer, o sujeito não é acolhido pela sociedade vendo-se impossibilitado de transformar o recalcamento pulsional em força de trabalho.

Quando isto acontece, quando o social que deveria garantir o pacto edipiano apresenta-se de forma perversa, é todo universo psíquico do sujeito que corre o risco de romper-se pois não há porque manter a renuncia pulsional quando não se tem nada em troca. O resultado é uma ruptura profunda, por vezes definitiva, com o social. Uma pesquisa feita com crianças da periferia mostra que, como qualquer criança, elas têm sonhos para o futuro baseados em modelos identificatórios: querem ser bombeiros, policiais, médicos, etc.

A partir dos 1O/11 anos estes sonhos desaparecem e, grande parte deles são obrigados a roubar, vender drogas, prostituir-se como única possibilidade de sobrevivência. Numa escala mais ampla, temos os assaltos, sequestros, estupros e outras tantas condutas violentas e mortíferas perpetradas por aqueles que não têm nenhuma razão para respeitar as imposições sociais quando a própria sociedade os relega ao degredo.

Mas a patologia social pode igualmente propiciar a falta de limite, ou um excesso de satisfação. Atravessamos um momento histórico onde incentiva-se que o sujeito "chegue lá" a qualquer custo. A clínica infantil apresenta-nos casos onde os filhos vivem a crença imaginária de ser o objeto exclusivo de amor dos pais.

Na ilusão de um narcisismo ilimitado, as sanções sociais e atos de autoridade que, mais cedo ou mais tarde, são impostos terão um elevado ônus psíquico, sendo vivenciados como atentados ao narcisismo. Esta violência mortífera se traduz pela negação da diferença: ver no filho apenas uma imagem idealizada de si mesmo é não reconhecê-lo como outro; é pedir a este filho que seja aquilo que eles - os pais - não foram; é pedir-lhe que realize esperanças e elabore lutos sempre presentes em seus núcleos narcísicos infantis
." veja o artigo de
Paulo Roberto Ceccarelli

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Adolescência e Puberdade
Crianças e adolescentes já não são mais os mesmos. Eles participam avidamente do mundo dos adultos e se transformam nos novos convidados da realidade orgástica do consumo e dos prazeres.

As crianças, tendo nascido no seio de uma família e considerados como "pertencendo" a esta família, encontram-se, paradoxalmente, cada vez mais solitários e à mercê de seus pares da rua, da escola e do apelo cultural para que se tornem, rapidamente, adultos esbeltos, ricos, formosos, na moda e plenamente sexualizados.

Isso tudo acontece enquanto seus pais se ocupam diuturnamente com suas próprias vidas, se preocupam em ganhar dinheiro, em sobreviver, em não perder tempo.

De todas as reflexões e estudos sobre infância e adolescência, se alguma coisa pode ser mais ou menos consensual é que, crescentemente, as crianças estão mais sozinhas ou mais na convivência com seus pares da rua do que no seio de suas famílias. O pai, a mãe, ou qualquer outra figura de ligação familiar está se tornando rarefeita.

Dentro de sua casa, mas distante do convívio doméstico e familiar, o adolescente ou a criança está solitariamente assistindo à tevê, na internet ou está fora de casa, em bandos perambulando pelas ruas, nos shoppings, nos lugares de lazer.

Por outro lado, parece razoável atenuar o peso atribuído à hegemonia da televisão, tendo em mente a redução das oportunidades de convivência e brincadeiras ao ar livre. Isso porque os espaços livres das ruas, antes utilizados pelas crianças e adolescentes para brincadeiras, já não estão mais disponíveis, estão intensamente habitados por carros, prédios, marginais, ladrões.

A rua perdeu seu lugar de expressão coletiva dos jogos e das brincadeiras. Há muitas tentativas de se definir adolescência, embora nem todas as sociedades possuam este conceito. Cada cultura possui um conceito de adolescência, baseando-se sempre nas diferentes idades para definir este período.

No Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente define esta fase como característica dos 13 aos 18 anos de idade. A puberdade tem um aspecto biológico e universal, caracterizada que é pelas modificações visíveis, como por exemplo, o crescimento de pêlos pubianos, auxiliares ou torácicos, o aumento da massa corporal, desenvolvimento das mamas, evolução do pênis, menstruação, etc.

Estas mudanças físicas costumam caracterizar a puberdade, que neste caso seria um ato biológico ou da natureza." .

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Delinqüência
Há uma pesquisa interessante publicada pelo site BOL sobre delinqüência. Veja um trecho:
"Delinqüência juvenil está relacionada a problemas na escola e família", diz estudo.

Defasagem escolar e problemas na família são características comuns à maioria dos jovens infratores de São Paulo e Santos (SP), concluiu pesquisa.

Mais do que as condições socioeconômicas, a falta de interação entre pais e filhos, a existência de parentes com problemas psicopatológicos e os problemas escolares são fatores determinantes para a inserção dos jovens no mundo do crime. Esta é a conclusão que a psicóloga Maria Delfina Farias Dias chegou, após realizar seu trabalho de mestrado apresentado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A psicóloga analisou 40 jovens em situação de risco entre 12 e 18 anos das cidades de Santos e São Paulo com situações econômicas semelhantes. Os santistas fazem parte de um grupo de infratores que respondiam processo na justiça por uso de drogas, furto e assalto. Já os paulistanos não eram infratores e frequentavam o Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente (CAAA), da Unifesp.

Os dados apontam que 35% dos infratores possuem algum tipo de problema familiar. No grupo de não-infratores apenas 8,7% apresentam o mesmo distúrbio. "Há, principalmente, uma grande quantidade de famílias monoparentais entre os adolescentes que cometeram crimes", afirma Maria Delfina.

O problema nessa organização familiar, segundo a pesquisadora, está na sobrecarga de atividades para o chefe do núcleo familiar e a atribuição precoce de responsabilidades para o adolescente. Entre os grupos dos paulistanos, não-infratores, o número de adolescentes provenientes de famílias biparentais é de 73% contra 29% dos infratores que vivem na mesma situação.

Maria Delfina conta que os pais dos infratores tinham um distanciamento da vida cotidiana de seus filhos: tiveram dificuldades em responder quem eram os amigos, quais eram os lugares de lazer, quais os sonhos e expectativas de futuro. "Eles, assim, se envolviam pouco com a vida dos filhos e tinham uma organização pouco rigorosa, não sabiam a hora que eles chegavam em casa, nem sugeriam um limite".

Um número que assustou a pesquisadora diz respeito à presença de familiares próximos dos jovens infratores com problemas mentais. Nas entrevistas, mais de 35% dos jovens afirmaram ter parentes com problemas como o alcoolismo ou vício em drogas. "São números altos que demonstram a necessidade de intervir na realidade dessas famílias de maneira sistemática criando políticas públicas para atende-las", diz Maria Delfina.

Outro fator de risco para a inserção desses jovens na criminalidade constatado na pesquisa é a defasagem escolar. No grupo de infratores, apenas dois dos entrevistados tinham concluído o Ensino Fundamental. A maioria era multirrepetente e apresentava histórico de não adaptação ao cotidiano escolar.

"As escolas não estão preparadas para atender aos adolescentes com comportamentos desviantes e não tem recursos para estimular esses alunos", reclama a pesquisadora."
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Crimes de Menores em S. Paulo
Matéria de Marcelo Godoy, publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Veja um trecho:
"Pela primeira vez na história, a Secretaria da Segurança Pública fez um levantamento completo sobre os principais tipos de crimes cometidos exclusivamente por crianças e adolescentes no Estado de São Paulo.

O estudo mostra que, sozinhos, os menores são responsáveis por 2,7% do total de crimes registrados pela Polícia Civil. A participação deles é mais importante em três tipos de delito: o porte de drogas, pelos quais respondem por 18,7% do total de casos, o porte de armas (11,8%) e o tráfico de drogas (9,6%).

Em números absolutos, os adolescentes foram presos 3.993 vezes portando droga, 2.152 vezes com armas de fogo e 969 vezes traficando entorpecentes.

Eles também têm uma participação importante nos casos de estupro, pelos quais são responsáveis por 4,2% do total de casos - 164 em número absolutos -, lesões corporais (3,8%) e roubos seguidos de morte (3,2%). Os dados são relativos a 2001.

Isso não significa que a criminalidade exclusivamente infanto-juvenil no Estado seja dominada pelos delitos cometidos com violência. Em números absolutos, ela ainda tem o rosto de quem está dando os primeiros passos nessa área. Entre essas infrações predominam casos de lesão corporal, com 10.980 registros, furto, com 9.422, e porte de entorpecentes.

Mas apesar de serem numericamente maiores, as lesões cometidas por adolescentes representam só 3,8% do total de casos do Estado e os furtos, 2,1%. "Pelo dados, é possível verificar que, dos crimes envolvendo adolescentes e crianças, apenas 10,3% são violentos", afirmou o pesquisador Tulio Kahn, do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud).

Kahn considera violentos os casos de homicídio, estupro, roubo seguido de morte, tráfico de entorpecente e roubo. Ao todo, os menores foram responsáveis em 2001 por 29,9 mil atos infracionais - denominação dos delitos cometidos por crianças e adolescentes - no Estado.

Até agora, o governo dispunha apenas dos números que traçavam o perfil dos adolescentes internados na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem).

Números incompletos, pois para essa instituição vão apenas os adolescentes que cometeram infrações violentas ou são reincidentes em delitos menores.

Assim, o governo não tinha um retrato fiel da situação, porque não constavam das estatísticas menores que cometiam crimes leves, como lesão corporal, e, por isso, eram entregues à guarda da família.

Limitação - A única limitação da pesquisa da Secretaria da Segurança Pública é o fato de ela não computar os casos de adolescentes que cometeram crimes em companhia de adultos, o que, segundo policiais, poderia aumentar a quantidade de menores envolvidos em delitos graves.

Um exemplo disso é o seqüestro e a morte do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT). A quadrilha responsável pelo crime contou com a participação de dois adolescentes, um dos quais assumiu ter disparado os tiros que mataram o prefeito.

Nesse caso, o adolescente acusado demonstrou frieza e uma memória detalhista. L.S.N., de 17 anos, revelou passo a passo para a polícia como executara o prefeito. Ele e José Edson da Silva, seu comparsa, teriam, segundo sua versão, buscado Celso Daniel no cativeiro e levado o prefeito até a Estrada da Cachoeira, em Juquitiba, onde ocorreu o assassinato.

Perfil - Para o promotor Ebenezer Salgado Soares, da Vara da Infância e Juventude da Capital, em virtude dessa limitação o levantamento realizado pela secretaria não retrata a realidade da participação dos adolescentes em crimes. Ele argumenta que o perfil das infrações cometidas pelos menores na capital, que estão sob o controle da promotoria, é mais violento.

Soares admite, no entanto, a possibilidade de o perfil desses números no Estado ser diferente por causa das cidades do interior. Elas tradicionalmente são menos violentas do que a capital e os municípios da região metropolitana.

"Se o número de menores envolvidos com o crime pode ser maior por causa dessa limitação da pesquisa, ele também pode ser menor se considerarmos os casos em que eles assumem a autoria de crimes para encobrir adultos", disse Kahn. Segundo ele, isso talvez possa explicar o alto número de adolescentes que são acusados de porte ilegal de arma.

PM - A Polícia Militar também divulgou seus números sobre a delinqüência infanto-juvenil em São Paulo. No ano passado, os policiais militares registraram 29.107 casos qualificados de atos infracionais em um total de 4 milhões de ocorrências atendidas pela corporação no Estado, que resultaram em 70 mil prisões em flagrante, na apreensão de 28,5 mil armas de fogo e 7,6 toneladas de entorpecentes."
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A Natureza da Violência
De fato(Jeanine Nicolazzi Philippi), explica Freud, os homens não são criaturas gentis que, no máximo, podem defender-se quando atacadas, mas seres aos quais os dotes pulsionais lhes imprimem uma significativa cota de agressividade, cujos efeitos podem ser apreendidos na apropriação que fazem dos outros, utilizando-os não apenas como um ajudante ou objeto sexual, porém como um outro qualquer sobre o qual a descarga pulsional efetiva-se de diversas formas, como na exploração do trabalho, nas humilhações, torturas e mortes.

A agressividade é intrínseca às funções do eu do homem, ou seja, uma estrutura distinguida por uma tensão agressiva, por uma intenção de agressão. "Tensão no sentido de oposição, já que o outro sempre se opõe, disputa o mesmo lugar do eu. Para o eu humano só existe um lugar possível: se eu não estou certo, se não ocupo o lugar daquele que está certo, então... estou errado e é o outro quem está certo; para o eu, é como se o outro tivesse se apropriado desse lugar... (
veja o artigo)

Quando se aborda o fenômeno crime, uma das questões mais freqüentemente colocadas é a das suas razões ou causas, sendo comum ouvir como resposta que é porque os sujeitos são fracos, são maus ou são anormais (Cooke, Baldwin & Howison, 1990). No entanto a resposta parece ter de ser bem mais complexa, implicando estudar o sujeito criminoso, de modo a dar conta de todos os fatores que influenciam o seu comportamento. Tenta-se seguidamente demonstrar a necessidade de incluir as abordagens biológicas no estudo do crime.

A utilização do atual paradigma científico, o paradigma sistêmico comunicacional informacional (Agra, 1986), permite ter uma visão complexa do ser humano, pois ao considerá-lo como um sistema biopsicossocial, realça não só a existência dos níveis biológico, psicológico e social, separadamente, mas também a articulação e comunicação entre eles. Num comportamento complexo e problemático como é o crime, a complexidade do sistema biopsicossocial torna-se particularmente importante, pois para intervir é necessário conhecer os diferentes níveis do sistema humano e a importância de cada um deles no comportamento do sujeito.

Um dos níveis mais criticado e desvalorizado é o nível biológico. Defender a existência e a importância das abordagens biológicas no estudo do crime implica entrar num tema polêmico, freqüentemente utilizado pelos meios de comunicação social como explicação securizante de casos pontuais. No entanto, convém não esquecer que esta utilização da biologia como justificação do comportamento não é recente, pois há bem menos de um século quer a biologia, quer o darwinismo social serviram de base para o colonialismo, o racismo e a procura da raça pura (Mednick, Moffitt & Stack, 1987). Contudo, não considerar este nível, elimina à partida um dos elementos do triplo sistema, o sistema biopsicossocial (
veja o artigo original).

O Crime Segundo a Perspectiva de Durkheim
Jorge Adriano Carlos

O crime, definido como um "ato que ofende certos sentimentos coletivos", apesar da sua natureza aparentemente patológica, não deixa de ser considerado como um fenômeno normal, no entanto, com algumas precauções. O que é normal é que "exista uma criminalidade, contanto que atinja e não ultrapasse, para cada tipo social, um certo nível".

A sociedade constrói-se, na verdade, em torno de sentimentos mais ou menos fortes, sentimentos cuja dignidade parece tanto mais inquestionável quanto mais forem respeitados. No entanto isso não quer dizer que todos os membros da coletividade partilhem dos mesmos sentimentos com a mesma intensidade. De fato, alguns indivíduos tenderão a interiorizar mais esses sentimentos que outros, o que explica que possam existir condutas que, pelo seu grau de desvio, venham a apresentar-se como criminosas. Isso explicará naturalmente a natureza do crime como um fato de sociologia normal. Essa constatação não impede contudo que se considerem algumas condutas como particularmente anormais, o que será perfeitamente admissível, segundo Durkheim, tendo em consideração alguns fatores de ordem biológica e psicológica na constituição da pessoa do delinquente.

Para além disso, o crime deverá ser reconhecido não como um «mal» mas pela sua função utilitária enquanto um indicador da sanidade do sistema de valores que constitui a consciência coletiva. Nesse sentido, o crime será mesmo um elemento promotor da mudança e da evolução da sociedade. É a este propósito que Durkheim refere peculiarmente que, face aos sentimentos atenienses, a condenação de Sócrates «nada tinha de injusto»23. Efetivamente, será esta dimensão do crime que explica que a mesma conduta poderá ser censurada por uma determinada sociedade num determinado momento da sua evolução cultural como poderá nada ter de censurável na mesma sociedade num outro e diferente momento da sua evolução cultural. Isso permitir-nos-á compreender que um ato criminoso transpõe, de modo negativo, uma construção valorativa, de tal modo que poderá dizer-se que "não há ato algum que seja, em si mesmo, um crime. Por mais graves que sejam os danos que ele possa causar, o seu autor só será considerado criminoso se a opinião comum da respectiva sociedade o considerar como tal". (
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